quarta-feira, 1 de junho de 2011

CONSUMO DE CRACK DOMINA ÁREA CENTRAL DE BRASÍLIA E DAS ASAS SUL E NORTE


Um dia após denuncias sobre a venda de drogas dentro de barracas na Asa Norte, a polícia intensificou as operações no Plano Piloto. Mas, apesar de as forças de segurança fecharem o cerco ao comércio de entorpecentes, usuários e traficantes continuam a desafiar o poder público. A reportagem voltou ontem às ruas e fez vários flagrantes de consumo na Rodoviária do Plano Piloto, no Setor de Diversões Norte e no Setor Bancário Norte, além de diversas quadras residenciais das asas Sul e Norte. Confirmou que o crack circula livremente em plena luz do dia em todos esses lugares. Os viciados fumam atrás de tapumes, embaixo de árvores, em jardins e nas marquises dos prédios.

As cenas mais preocupantes foram registradas no centro de Brasília. No Teatro Nacional, usuários dormem nas saídas de emergência e utilizam esses locais, além dos jardins, para consumir o entorpecente. Segundo uma funcionária que preferiu não se identificar, os viciados fazem sexo e as necessidades fisiológicas ao redor do prédio e intimidam motoristas no estacionamento para conseguir dinheiro. “Pelo menos 20% deles são agressivos e ameaçam jogar pedras quando não damos nada”, relatou.

Indiscriminado
A situação é igualmente crítica no estacionamento do Conjunto Nacional. Em meia hora no local, foi fácil flagrar a ação de traficantes. Ontem, um grupo que variava de quatro a seis homens, todos jovens, vendia crack na saída do local e no viaduto que passa sobre a via N1 do Eixo Monumental. Quando viram a reportagem, acenaram com um pacote e, em seguida, voltaram a traficar.

Mesmo assim, alguns usuários tentam se esconder. Atrás de contêineres carregados com lixo de obras, um homem se sentou para usar o crack. Como cachimbo, usou uma lata de refrigerante. Ao perceber que estava sendo observado, mudou de lugar. Em uma das laterais do shopping coberta por tapumes, três adolescentes se protegiam atrás das madeiras para consumir o entorpecente. Segundo um pintor que trabalha no local e que também não quis se identificar, as cenas são comuns. “É droga 24 horas por dia. Já vi eles fazerem sexo em troca da pedra”, contou.

Na Rodoviária do Plano Piloto, um grupo concordou em conversar com o Correio. Uma mulher contou que está na Rodoviária desde 2001e tem família no Cruzeiro. Outro homem disse, ao lado de uma amiga, que começou a se drogar aos 8 anos. Questionado sobre o que faria se pudesse pedir qualquer coisa, sabia a resposta: “Eu pediria para nunca ter experimentado o crack”. Mesmo assim, disse que não pensa em parar.

No Setor Bancário Norte, ao lado do Palácio da Agricultura, dois jovens aproveitaram a copa de uma grande árvore para fazer o uso do entorpecente. Um deles chamou a atenção pelas roupas que vestia. Diferentemente da maioria dos dependentes da droga, que andam maltrapilhos e sujos, o rapaz usava calça e camiseta limpas. Nem mesmo o movimento intenso de pessoas intimidou a dupla.

Não muito longe, um grupo de quatro homens consumia a substância, feita de ácido sulfúrico, pasta base de cocaína e bicarbonato de sódio, sob o viaduto que liga o Setor Bancário ao Teatro Nacional. Eles quebraram parte do elevado para alimentarem o vício com mais privacidade. Na 710 Norte, um restaurante chinês demolido se transformou em abrigo para viciados. São 12 cômodos tomados de latas usadas para fumar crack, colchões e garrafas de bebidas alcoólicas. O mau cheiro toma conta do lugar.

Com o mercado da droga em plena expansão, resta a moradores e a comerciantes evitarem de se expor. Na 110 Norte, as empregadas de uma loja trabalham com as portas trancadas. O estabelecimento fica em frente ao gramado onde traficantes montam a barraca para vender crack e cocaína na noite. “Fica trancada o dia todo. Quando chega alguém, nós abrimos. A tensão aqui é permanente”, disse a funcionária.
Luiz Calcagno / Saulo Araújo
Fonte: correiobraziliense.com.br

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